O tapa que o Will Smith deu no Chris Rock ao vivo após uma piada sobre sua esposa Jada Smith, nos deixou tão perplexos, que foi difícil acreditar que não era encenado.
E não era.
O comediante e criador do engraçadíssimo “Todo mundo odeia o Chris”, dessa vez foi infeliz em seu humor, que tirando risos da plateia, fez piada da careca da atriz que trata alopecia, uma doença autoimune que causa a queda dos cabelos.
Ela ficou tão desconfortável que Will, num impulso, partiu pra cima do colega com agressão.
Nada justifica a violência, e também nada justifica esse humor maldoso. E é preciso lembrar sempre que um fato deve ser analisado por várias perspectivas.
Nesse caso, todos ali tiveram falhas. E isso nos ensina que temos que tomar cuidado quando só culpamos um lado e não contextualizamos o todo.
No Oscar, a maioria dos presentes estavam rindo e só foram entender que a piada era desconectada depois da agressão.
Muitas vezes esse tipo de situação acontece numa roda de amigos, na família e também nas empresas.
Tem gente que usa da ironia e do sarcasmo para descontrair o ambiente e acaba cometendo o que chamamos de bullying corporativo.
O que é bullying?
Desmoralizar, ofender ou isolar alguém com atos contínuos e intencionais por uma pessoa ou grupo, que resultam em uma violência física, verbal ou virtual. As consequências para a vítima (ou vítimas) são devastadoras. Por mais confiante que uma pessoa seja, deixá-la vulnerável trará à tona momentos de fraqueza em que poderá questionar sua capacidade.
Bullying no meio corporativo.
Quando o bullying acontece no ambiente de trabalho, são desfeitas relações de confiança fundamentais para o bom andamento do desenvolvimento em equipe, já que manter a saúde mental é essencial para a produtividade.
A Lei nº 13.185 afirma que a prática pode ser classificada em oito tipos:
Verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente
Moral: difamar, caluniar, disseminar rumores
Sexual: assediar, induzir e/ou abusar
Social: ignorar, isolar e excluir
Psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar
Física: socar, chutar, bater
Material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem
Virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social.
Bullying x Assédio moral
Já no assédio moral os atos são praticados por superiores, que se aproveitam de sua posição privilegiada para humilhar, ridicularizar e/ou isolar um ou mais subordinados.
O que não é bullying
Na avaliação do contexto um fato isolado não se caracteriza como bullying, para se caracterizar como, ele tem base na intenção do agressor de causar repetidamente sofrimento a vítima que pode ter sua saúde mental afetada e desenvolver diversos sintomas como:
- Alterações de humor;
- Perda de memória;
- Irritabilidade;
- Dificuldades de relacionamento:
- Perturbações do sono;
- Dores de cabeça;
- Dores nas costas;
- Tonturas;
- Desmaios;
- Obsessões e compulsões;
- Comportamentos violentos contra si e contra outros indivíduos:
- Tendência suicida (em casos críticos).
Triste né?
Existe uma responsabilidade por detrás de uma brincadeira, opinião ou piada.
A responsabilidade das empresas consiste em criar um ambiente que não favoreça ou estimule a hostilidade entre funcionários, seja pela conscientização, treinamentos e divulgação de regras claras e bem definidas para prevenção e construção de um ambiente saudável.
E caso aconteça, o Rh tem que estar qualificado para acolhimento da vítima e tratar o caso com discrição até que seja provado o bullying.
Ter um canal de comunicação confiável também é muito válido. Pode ser por e-mail ou ouvidoria que mantenham sigilo e anonimato para incentivar as vítimas a denunciarem.
E se constatado o comportamento abusivo, o agressor deve ser advertido e caso não cesse com os atos, a aplicação das regras da empresa e demissão devem ser atendidas, além de dar apoio e tratamento psicológico para a vítima ou vítimas.
Por isso é preciso ter foco na prevenção, e não tratar o problema como algo menor, pois caso a empresa se torne passiva, e for provada a omissão em punir essas práticas, ela pode ser processada e condenada a indenizar a pessoa agredida. Além de perder o profissional se o mesmo também pedir demissão.
O tapa do Oscar resume bem que o lugar de dor do outro não é engraçado, e que ser ofendido não justifica uma agressão. Isso nos faz pensar: o que gera uma brincadeira? Qual a responsabilidade que temos diante de um comentário, mesmo como ouvintes?
Tudo com tom de graça é realmente engraçado?
Nem sempre.
Esses dias vi uma fala da participante Lina do BBB em que um dos confinados pediu desculpas pra ela e perguntou se uma colocação que ele fez sobre travestis era ofensiva.
E a resposta foi justa:
– É sim, demais. Você não sente?
Se pararmos algum tempo antes da ação e sentirmos, muitas situações de bullying corporativo poderiam ser evitadas.
Will Smith não é mais membro da academia, e teve trabalhos e projetos cancelados, e todo mundo odiou a piada do Chris, que não prestou queixa do tapa.
A academia também foi criticada por punir Smith, mas não se manifestar contra outros agressores membros da mesma, denunciados e condenados pela justiça recentemente.
Vemos aqui que a máxima sempre vale: na dúvida não faça.
Afinal, você não sente?